Acordou na praia. Olhou à sua volta e não reconheceu nada em seu redor. Vestia uns jeans rasgados, uma camisa de flanela cinzenta com os botões arrancados e estava descalço. Não se lembrava como tinha ali chegado. Não se lembrava de nada que lhe desse uma pista sobre quem ele era sequer. A sua mente encontrava-se num total vazio. Percorreu os bolsos na esperança de ter uma carteira, um dinheiro, um qualquer documento identificativo. No entanto, tudo o que encontrou foi um papel com umas letras e um número que para ele não faziam qualquer sentido. Mas também, naquele momento, nada lhe fazia sentido. Ainda voltou a olhar em volta, na esperança que algo lhe trouxesse uma pequena recordação de onde se encontrava, mas a cabeça doía-lhe, o corpo magoava-o e o estômago dava sinais de vida, ou melhor, suspirava por algo com que se entreter. Fechou os olhos, pôs novamente a cabeça na areia e adormeceu.
Já o dia ia longo quando uma água o acorda. Começava a chover e ele tinha de se abrigar. Correu para debaixo do pontão da praia para se abrigar. Chovia cada vez com mais intensidade, ele acelerava a corrida e ainda assim o pontão parecia estar na outra ponta do mundo. Assim que se conseguiu abrigar prostrou-se na areia e chorou. Não tinha recordação de nada. Voltou a enfiar a mão no bolso para se certificar que o papel ainda se encontrava lá, que não havia sido um sonho. Com mais atenção, identificou as letras e juntou-as de modo a que lhe surgisse um nome. A sua primeira pista. Restava agora identificar os números. E saber porque não tinha nada com ele a não ser aquele papel com aquele nome e aqueles números. O que significavam? Seria um telefone? A quem pertencia aquele nome? O que lhe era aquele nome? Seria que em algum sítio já o procurassem? Há quanto tempo estaria "desaparecido"? Por enquanto, eram perguntas para as quais não tinha ainda qualquer resposta e por mais esforço mental que fizesse, não conseguia mesmo lembrar-se de nada. Tinha só a esperança que alguém, em algum lado lhe sentisse a falta. Era como se nascesse de novo e nada mais apropriado do que toda aquela água que lhe caía dos olhos e do céu a lembrar o líquido materno em que tinha vivido durante meses no útero materno. Não tinha era a segurança que possuía nesse local inviolável.
Sem comentários:
Enviar um comentário