Apareço à minha mãe, às 07 da manhã de um Domingo, completamente grosso, a cambalear, a fazer um basqueiro horrível e ela surge-me de vassoura na mão e diz "tás bonito, tás!". Eu respondo de imediato "Pudera. Sou teu filho. E vais varrer ou vais voar?"
Escusado será dizer que numa situação destas, a vassoura cairia de imediato - voando - em cima da minha cabeça.
Se assim é, onde está a ironia? Numa clara demonstração de ironia, eu respondo com duas afirmações que apesar de irónicas, demonstram desrespeito. Já a afirmação da minha mãe demonstra uma ironia sarcástica que se prende com o meu estado de ebriedade (ou falta dele).
Então como se vê a ironia e onde se pode, ou não utilizar nos dias que correm? Numa sociedade dita moderna, onde reinam as máximas de liberdade de expressão? Numa cultura aberta e universal, global, digital e tecnológica?
Antes de mais, é importante não esquecer que a ironia deve ser utilizada como elemento discursivo e recursivo-estilístico e é tão mais mordaz quanto o grau de abertura mental do interlocutor e do receptor. Se assim não fosse, como poderia a ironia ser responsável por uma boa parte da literatura - dita maior - de um país em tempos de ditaduras?
Sttau-Monteiro serviu-se dela para criticar um regime. Reynaldo Arenas também. Entre muitos outros que possam pensar seja na China, Rússia, Espanha, Itália, etc etc, etc.
Mas então porque nos sentimos tão ofendidos quando alguém lança para cima de nós uma ironia?
A explicação é simples e encontra-se também na justificação encontrada por F. Pessoa no seu artigo "O provincianismo português". Primeiro, porque não sabemos, ou esquecemos de como se usa a ironia. Depois, e mais importante, por isso mesmo... PORQUE SOMOS PROVINCIANOS!
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