Cláudia...
Se não fosse a resposta, nunca me lembraria de, tão cedo, fazer este post.
Pois é... Tenho umas saudades enormes do velhote. Todos os dias penso nele. Todos os dias sinto a sua falta.
Lembro de situações soltas por que passei na sua companhia, mas agora que oiço as pessoas a falar dele, do que era e do que representava para a família, chego à conclusão que a ideia que construí em seu redor, em torno da pessoa que foi sempre foi a correcta.
Quando era puto, os meus pais trabalhavam e como não somos uma família de muitas posses, sempre que podiam/conseguiam, era com os meus avós que me deixavam. Agora imaginem uma pequena aldeia, com montes de espaço para fazer tudo, juntem alguns primos mais ou menos da mesma idade e adicionem um velhote de 70 anos qua fazia tudo por dois dos seus netos. Esse velhote era o meu avô.
Recordo situações em que, juntamente com os meus primos, combinávamos de ir armar armadilhas para apanhar tralhões(pássaro). A ideia era levantar por volta das 5 da manhã, ir armar as ditas armadilhas, voltar para a cama e ir ver o resultado da "caça" por volta da meia manhã. Escusado será dizer que muitas das armadilhas desapareciam, ou não as encontrávamos. Era sempre com enorme prazer que o meu avô se prontificava a fazer mais algumas para as nossas "incursões cinegéticas".
Recordo me de, já muito mais tarde, adolescente, ter recebido um castigo de meus pais. O castigo resumia-se a raspar erva de um bocado de terreno com perto de 25m quadrados. Lembro-me de ter pensado que aquilo seria serviço para um dia. Pois durou uma semana por minha culpa e do meu avô. Passou-se da seguinte maneira:
No primeiro dia em lá fui "largado" o meu avô veio ter comigo com a enchada e num minúsculo espaço de terra, disse-me como havia de fazer. O resto teria de ser eu. E assim foi. No entanto, as minhas manhãs eram passadas na cama, as noites na brincadeira e, só na torreira do calor de verão que se fazia sentir é que eu me dirigia para o pequeno terrena, a fim de completar a minha terefa. Aquilo que mais me encantou, foi que todos os dias, o meu avô se proponha a acompanhar-me. Então lá nos dirigiamos os dois para o local onde eu cumpriria a minha hercúlea tarefa, enquanto que meu avô se sentava numa sombra, só a "mirar" os meus esforços e à conversa comigo. O porquê do castigo, a escola, as miúdas, tudo... Demais.
Vocês conseguem imaginar um velhote de 70 anos a correr atrás de uma bola, como se fosse um cachopo? A rir como se não houvesse amanhã? Eu não preciso de imaginar tudo isso, tenho-o bem presente na minha memória.
No dia em que ele faleceu, eu estava em Coimbra, numa aula de Cultura Inglesa, no Departamento de Física.
Entretanto o meu telemóvel tocou. Vi que era o meu pai e, como sabia que o meu avô se encontrava hospitalizado, juntei 1 mais 1. Mas não atendi. De seguida, o meu pai ligou novamente e, voltei a não atender. Voltou a ligar e voltei a não atender.
Aminha colega do lado, vendo que eu mexia tanto no telemóvel, vendo que recebia chamadas e não atendia, perguntou o que se passava, ao que respondi de imediato que o meu avô tinha falecido nesse instante. Teve de ser a minha colega a pedir à professora para eu me ir embora.
Não consegui derramar uma lágrima. Aindahoje, não a derramo por ele. A vida dele foi do mais cheia possível, cheia de pessoas que o adoram e acarinharam. Filhos, netos, bisnetos... Todos o sentiram de uma maneira especial. No entanto, comigo e com outro primo foi diferente.
"Ó Conceição... Já fizeste a cama ao garoto?" Sempre que podia ir para casa dos meus avós, a minha cama eram uns cobertores mesmo ao lado da cama deles, num quarto minúsculo. E assim foi até bem tarde na minha idade.
AVÔ:
Por tudo... Por teres sido quem foste... Por teres sido e, continuares a ser o meu modelo... Por me teres mostrado que a felicidade atinge-se nas mais pequenas coisas da vida... Por teres sido mais do que o meu pai... Por teres sido tu... O meu mais sincero agradecimento, a minha mais sincera saudade, a minha mais sincera tristeza por não te ter junto de mim. Mas sempre com a certeza que me acompanhas na minha vida, nas minhas acções, nas minhas palavras.......... E....... Aqui... na minha escrita.
OBRIGADO
4 comentários:
Felizes daqueles que sao abençoados com este tipo de recordações...
Claudia
É bom nao é?? Ter estas recordações de infância.. doa avós.. O meu ensinou me a jogar às cartas.. passávamos horas a jogar. Às vezes pergunto me se os miudos de hj qd crescerem tb trerão recordações como as nossas...
Claro que terão recordações como as nossas.
Existe sempre uma pessoa na nossa vida que, mais tarde ou mais cedo, acabará por nos marcar de uma maneira muito especial.
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