Cheguei a casa. A mesma casa de sempre. A casa das minhas memórias. Estava escura. O silêncio foi quebrado pelo ranger de um taco solto no chão. Segui com as mãos na parede para não acender a luz e permitir que essa minha amiga fosse quebrada por fotões que viajam a velocidades inimagináveis.
Encontrei a porta do quarto entreaberta. Empurrei a porta e esgueirei-me colando o corpo à porta. Naquele momento, fomos um... Eu e a porta.
Um outro barulho quebra o silêncio. Mas que raio. Sigo com os olhos ainda a habituar-me à escuridão do meu templo e não encontro nada nem ninguém. Assassino a escuridão com o interruptor e o espaço continua vazio. Mas então o barulho...
"Pedro!!"
O que se passa? Vozes ecoam na minha cabeça? Quem me chama? Mas não!! Ninguém me chama na minha cabeça. Ninguém está comigo na casa carregada de histórias e dos meus fantasmas. Mas então, de onde vem a voz que me chama?
Uma voz que chega das profundezas do oceano, melódica e melancólica. E novamente o chamamento volta:
"Pedro!!"
Uma voz grave mas rouca. Pesada pela idade, pelos anos.
"Deixa-me entrar. Precisamos de falar!"
Mas ai a porra... "Quem és? Aparece e entra!"
Ao reabrir a porta do quarto, ouvi as molas da cama a ranger. Ao voltar-me dei com uma figura já sentada na borda do colchão. Um idoso. A pele rugosa mostrava a passagem do Cronos que não o poupou. No entanto, os olhos mantinham-se facilmente abertos. Notava-se a passagem dos tempos no tom de voz mas, não falava como se ainda tivesse na flor da idade. Curvado. O peso do Tempo que carregava talvez o tivesse corcundado.
"Quem é..."
"Bolas! Já não me lembrava de termos sido assim. Não te esqueças que estás onde tens de estar!"