quinta-feira, agosto 25, 2016

Lembras-te?

E a vontade que tive de te agarrar, levar-te para o fim do mundo e prender-nos lá?
Lembras-te? Foi quando... Espera!
Lógico que não te lembras. Eu não te disse. Como podias saber?
Assim também não sabes que me impediste de enfiar a merda do ar nos pulmões, que congestionaste a sua saída e me proibiste de te dizer: "Quero-te beijar!"

terça-feira, agosto 23, 2016

Beijo-te com os olhos

Quando dei por mim, tremia! Abanava com a corrente de ar que ficava da tua respiração, com o movimento que ficava da tua passagem por mim. Sim! A tua passagem por mim!!
E aquele "cliché" de ficar algo de alguém levar algo de alguém passou a fazer todo o sentido. Foram breves instantes que me souberam a uma vida a teu lado. Vi-te como não houvera visto ninguém. Escutei-te e procurei-te nas horas que não te tive, como nunca beijei ninguém. Nem mesmo tu. Nunca te beijei como deveria. Se o tivesse de voltar a fazer, acho que ainda não saberia como. Ainda não sei beijar com a boca. Só aprendi a beijar com os olhos. E esse beijo, digo-te o eu, é melhor que qualquer outro!

quinta-feira, agosto 18, 2016

Deixa-me dormir

Se me voltares a beijar, deixa-me dormir. Não me acordes. Não quero acordar sem saber a que sabem os teus lábios. Ou a saber. Nem sei bem.
Bodo. Amigos, conhecidos...
Estavas com alguém. Cumprimentaste o Luís. Vieste despedir-te de mim. Beijo na testa, entre os olhos, nariz, lábio e boca. Deixamo-nos continuar. Acordei com a boca tão molhada e tão doce que quase conseguia saber ao que sabiam!

terça-feira, agosto 09, 2016

O show das marionetas

FOI há tanto tempo que nem me lembro quando. Mas há tanto tempo, quanto? Tempo? Podíamos ficar palavras, linhas e parágrafos a tentar decidir quando foi, ou mesmo como foi. Mas importa? E o que importa? Importas tu? Importo eu? Ou importamos nós? Que se passou?
No dia em que te vi, naquele dia, naquele segundo ou naquele instante de momento em que te vi, mas VI mesmo, foi o segundo que se tornou Tempo. A Terra parou, o vento deixou de abanar as árvores, os pássaros imobilizaram-se no ar, os ribeiros, riachos e rios congelaram e as marés dos mares e oceanos hibernaram. Fiquei só no mundo. Só eu me mexia e circulava entre as personagens de uma peça de marionetas cujo encenador deixou em posição estática, esquecido do espectáculo do movimento.
A estaticidade do mundo deu-me o que há muito ansiava. A solidão e o silêncio! Tive todo o tempo do Tempo para correr o mundo. Fui a todos os recantos escondidos onde desejei ir mas, todas as noites me deixava invadir por uma solidão maior que a que havia desejado. Essa solidão instaurou-se na minha pele e eu tornei-me impotente na minha condição de único andante num mundo imóvel. Podia dispor de tudo e só queria voltar ao ponto de partida.
Iniciei a viagem de regresso, sem saber o que fazer, o que esperar. E quando te voltar a ver... Quero dormir! Quero dormir sem te ter na cabeça. Ou então sim.. Quero dormir a ter-te na cabeça. Quero embalar-te no regaço e beijar-te a testa. Quero abraçar-te e sentir a nossa respiração a encontrar-se até sermos só um a respirar. Ou então sim.. Quero fugir para aquele ponto da vida, do mundo e do tempo em que não sei quem és, nem onde estás. As contradições instalam-se em mim à medida que me sinto a aproximarmos-nos. Mas de que adianta? A imobilidade do mundo e das marionetas adormecidas e esquecidas não me deixam ver-te. Mas que aconteceu? Onde estás? Como é possível? Tive de me afastar para que também tu ganhasses a energia do movimento? Como é possível já não estares no mesmo sítio em que te deixei? Só queria imobilizar-me na tua frente e esperar que o Tempo me fizesse criar raízes junto de ti. Se o mundo não mais mexesse, saberia que estaria no sítio onde sempre quis estar. Mas tu mexeste-te, ou mexeram-te. Onde estás? E porque não me vês ou ouves? Quero-te encontrar para.. Não!! Não te quero encontrar. Tenho medo de me ter esquecido de.. Mas já me esqueci. Não sei onde estás. Não te vejo.
Quero que o encenador acorde e mova as marionetas. Mas quero que as troque de lugar e crie uma nova história. Uma em que... Uma em que... Uma em que eu não exista senão na minha lembrança, em que eu não existe senão em tudo e todos em que toquei e em que deixei as minhas impressões. E todos terão a marca e olhando para ela, perguntarão "Quem?", e terão a sensação de lembrança de algo que nunca aconteceu.