sábado, novembro 05, 2016

um par de Colhões, não um par de orelhas

Não é esperado que este texto seja lido. É, no entanto, esperado que seja escrito!

São as histórias de sonhos destroçados por falta de coragem e, por uma Educação deficitária.
A falta de coragem não é minha. E a Educação não é a que os meus pais de deram. É a falta de coragem de classes políticas e de um sistema de ensino que caminha para um abismo.

Por altura da discussão do processo de Bolonha, fui um dos que nunca acreditou que trouxesse benefícios ao Ensino Superior português. Antes pelo contrário. Sou daqueles que (quer) acredita(r) que ainda temos um dos melhores ensinos do mundo. Os professores são excepcionais, as matérias são boas e adequadas. Os alunos saem muito bem preparados em termos intelectuais. Em jeito de brincadeira, os portugueses, da esquerda à direita, são informados e sabem que é mau um Trump à frente de uma América. São intelectuais! Mas as constantes reformas que se vêm após Bolonha, fazem-me crer que isto acabará. Uma adequação de um currículo de estudos a uma Europa, também ela a fragmentar-se, perdoem-me mas, só pode dar merda!

Eu entrei para a faculdade em 2000. Pré-Bolonha. É verdade. Fui conas! Devia ter feito o curso à primeira. Mas preferi andar a passear livros, a beber copos e a namoriscar. Depois "tive" de deixar de estudar e entrou em vigor em Portugal o ensino de Bolonha. Cadeiras e notas desapareceram. Cadeiras e notas apareceram. E eu fiquei sem saber bem o que fazer ou o que devia fazer. Um curso de 4anos, passou a 3. E saídas? No meu caso, como em muitos outros casos, as faculdades, universidades e ministérios, começaram a casa pelo telhado. Por mais que procure, indague, pesquise e pergunte, não encontro utilidade absolutamente alguma para o meu "canudo". E isto desmoraliza qualquer um. Ainda para mais porque os meus últimos anos saíram-me do corpo (literalmente) e não do "pai/mãetrocínio". Não quero desdizer de quem tem/pode ter os pais a financiar. Ainda bem que uma sociedade tem ricos e pobres (!), mas quero com isto dizer que entra aqui a falta de coragem. Era muito mais simples fechar de imediato os cursos para os quais NÃO HÁ saídas profissionais. Eu teria ficado a perder, mas ao menos sabia que havia coragem de alguém para...
Digam-me para mudar de área. Ser empreendedor. Não me importo. Mas isso aplica-se a um ensino profissional. Não a um ensino dito regular. Portugal foi durante anos o "país dos doutores". É hoje o "país dos técnicos". Temos técnicos super hiper mega qualificados o que tem repercussões na sua procura pelo mercado de trabalho internacional. Mas se hoje em dia não fores um técnico, temos pena...
Estuda! Aprofunda os teus conhecimentos! Perceberás que te desenvolves em termos intelectuais em em termos de desenvolvimento enquanto ser humano! Perceberás assim qual o teu lugar no mercado de trabalho! Talvez. Mas quem me financia? A Lei da Autonomia das Universidades, concede-lhes o direito de fixarem o valor das propinas. Sabemos que o valor máximo, em alguns casos, não chega para fazer face a todas as despesas. E a culpa é de quem? Minha não de certeza! Despedimentos, incentivos à fixação de estudantes, benefícios sociais, são tudo tabus dentro de um senado ou reitoria. Podes concorrer a uma Bolsa! Pois posso. Mas não posso estar a trabalhar. E se vem recusada? Em vez de um "borracho", fico sem pombos! Pedia coragem, mas se a minha me abandonou o ano passado, verdade que a de muitos fugiu há muito mais tempo.

Hoje em dia um aluno sai do secundário e vai para o superior. Escolhe o curso. Dentro da sua área de estudos tem de efectuar (com aproveitamento) um certo número de "créditos" (ainda não percebi o nome, será que alguém me deve alguma coisa? Tenho cento e tal créditos efectuados!). O mais engraçado é o que volume de créditos maior, pode ser efectuado fora da sua área de estudos. Vejamos por exemplo (e não sei quais os valores em número): Um aluno entra para Matemática. Para ter direito ao seu diploma, a juntar ao facto de não poder ter propinas atrasadas, tem de completar 120 créditos. Desses 120, 40/50, têm de ser dentro da área da Matemática, seja em Álgebra, ou Matemática Aplicada a ... Os restantes 70/80 créditos, podem ser efectuados em Iniciação ao Russo (!), ou Introdução ao Direito Penal (!). A ideia, dizem, é dotar os alunos de saberes abrangentes que lhes permita competir num mercado de trabalho cada vez mais competitivo. Pois, mas eu queria Matemática! Ah, ok! Não sei quanto é 1+1, mas sei quantos anos de cadeia posso apanhar se não pagar os meus impostos.

Meus amigos, VÃO-SE FODER!!!! Continuem a adorar partidos e cores partidárias. Continuem a cultivar uma cultura de bajulação e esqueçam a "meritocracia".
Um dia, teremos um "Trump" em Portugal e andaremos todos "ó tio, ó tio, ó tio...". Nesse dia, em que percebermos que somos uma cambada de "burrinhos" que gostamos de copiar o que de bom se faz fora, sem estudar as consequências da sua aplicação a uma realidade económico-social como a nossa, talvez nesse dia nos cresçam um par igual aos do burro. Mas um par de Colhões, não um par de orelhas!!

terça-feira, setembro 06, 2016

Eu sabia

Eu sempre soube que ia morrer cedo. Ainda pensei que fosse com a idade de Cristo. Talvez para me convencer que seria melhor!

A minha alma vagueia sem destino. Vejo-me pendurado na trave. Vejo o mundo com mais clareza agora. Mas não consigo encontrar as falhas no meu destino.Onde raio estava o cruzamento onde me enganei a virar que me levou a este (in)feliz desfecho? Será que me enganei mesmo a virar em algum lado, ou tudo se conjugou para neste momento eu me encontrar inerte, com as mãos presas por cordas grossas que me arranham os pulsos como amarras de navios aportados em um cais?


quinta-feira, agosto 25, 2016

Lembras-te?

E a vontade que tive de te agarrar, levar-te para o fim do mundo e prender-nos lá?
Lembras-te? Foi quando... Espera!
Lógico que não te lembras. Eu não te disse. Como podias saber?
Assim também não sabes que me impediste de enfiar a merda do ar nos pulmões, que congestionaste a sua saída e me proibiste de te dizer: "Quero-te beijar!"

terça-feira, agosto 23, 2016

Beijo-te com os olhos

Quando dei por mim, tremia! Abanava com a corrente de ar que ficava da tua respiração, com o movimento que ficava da tua passagem por mim. Sim! A tua passagem por mim!!
E aquele "cliché" de ficar algo de alguém levar algo de alguém passou a fazer todo o sentido. Foram breves instantes que me souberam a uma vida a teu lado. Vi-te como não houvera visto ninguém. Escutei-te e procurei-te nas horas que não te tive, como nunca beijei ninguém. Nem mesmo tu. Nunca te beijei como deveria. Se o tivesse de voltar a fazer, acho que ainda não saberia como. Ainda não sei beijar com a boca. Só aprendi a beijar com os olhos. E esse beijo, digo-te o eu, é melhor que qualquer outro!

quinta-feira, agosto 18, 2016

Deixa-me dormir

Se me voltares a beijar, deixa-me dormir. Não me acordes. Não quero acordar sem saber a que sabem os teus lábios. Ou a saber. Nem sei bem.
Bodo. Amigos, conhecidos...
Estavas com alguém. Cumprimentaste o Luís. Vieste despedir-te de mim. Beijo na testa, entre os olhos, nariz, lábio e boca. Deixamo-nos continuar. Acordei com a boca tão molhada e tão doce que quase conseguia saber ao que sabiam!

terça-feira, agosto 09, 2016

O show das marionetas

FOI há tanto tempo que nem me lembro quando. Mas há tanto tempo, quanto? Tempo? Podíamos ficar palavras, linhas e parágrafos a tentar decidir quando foi, ou mesmo como foi. Mas importa? E o que importa? Importas tu? Importo eu? Ou importamos nós? Que se passou?
No dia em que te vi, naquele dia, naquele segundo ou naquele instante de momento em que te vi, mas VI mesmo, foi o segundo que se tornou Tempo. A Terra parou, o vento deixou de abanar as árvores, os pássaros imobilizaram-se no ar, os ribeiros, riachos e rios congelaram e as marés dos mares e oceanos hibernaram. Fiquei só no mundo. Só eu me mexia e circulava entre as personagens de uma peça de marionetas cujo encenador deixou em posição estática, esquecido do espectáculo do movimento.
A estaticidade do mundo deu-me o que há muito ansiava. A solidão e o silêncio! Tive todo o tempo do Tempo para correr o mundo. Fui a todos os recantos escondidos onde desejei ir mas, todas as noites me deixava invadir por uma solidão maior que a que havia desejado. Essa solidão instaurou-se na minha pele e eu tornei-me impotente na minha condição de único andante num mundo imóvel. Podia dispor de tudo e só queria voltar ao ponto de partida.
Iniciei a viagem de regresso, sem saber o que fazer, o que esperar. E quando te voltar a ver... Quero dormir! Quero dormir sem te ter na cabeça. Ou então sim.. Quero dormir a ter-te na cabeça. Quero embalar-te no regaço e beijar-te a testa. Quero abraçar-te e sentir a nossa respiração a encontrar-se até sermos só um a respirar. Ou então sim.. Quero fugir para aquele ponto da vida, do mundo e do tempo em que não sei quem és, nem onde estás. As contradições instalam-se em mim à medida que me sinto a aproximarmos-nos. Mas de que adianta? A imobilidade do mundo e das marionetas adormecidas e esquecidas não me deixam ver-te. Mas que aconteceu? Onde estás? Como é possível? Tive de me afastar para que também tu ganhasses a energia do movimento? Como é possível já não estares no mesmo sítio em que te deixei? Só queria imobilizar-me na tua frente e esperar que o Tempo me fizesse criar raízes junto de ti. Se o mundo não mais mexesse, saberia que estaria no sítio onde sempre quis estar. Mas tu mexeste-te, ou mexeram-te. Onde estás? E porque não me vês ou ouves? Quero-te encontrar para.. Não!! Não te quero encontrar. Tenho medo de me ter esquecido de.. Mas já me esqueci. Não sei onde estás. Não te vejo.
Quero que o encenador acorde e mova as marionetas. Mas quero que as troque de lugar e crie uma nova história. Uma em que... Uma em que... Uma em que eu não exista senão na minha lembrança, em que eu não existe senão em tudo e todos em que toquei e em que deixei as minhas impressões. E todos terão a marca e olhando para ela, perguntarão "Quem?", e terão a sensação de lembrança de algo que nunca aconteceu.

quarta-feira, maio 18, 2016

Ironia

Apareço à minha mãe, às 07 da manhã de um Domingo, completamente grosso, a cambalear, a fazer um basqueiro horrível e ela surge-me de vassoura na mão e diz "tás bonito, tás!". Eu respondo de imediato "Pudera. Sou teu filho. E vais varrer ou vais voar?"
Escusado será dizer que numa situação destas, a vassoura cairia de imediato - voando - em cima da minha cabeça.
Se assim é, onde está a ironia? Numa clara demonstração de ironia, eu respondo com duas afirmações que apesar de irónicas, demonstram desrespeito. Já a afirmação da minha mãe demonstra uma ironia sarcástica que se prende com o meu estado de ebriedade (ou falta dele).
Então como se vê a ironia e onde se pode, ou não utilizar nos dias que correm? Numa sociedade dita moderna, onde reinam as máximas de liberdade de expressão? Numa cultura aberta e universal, global, digital e tecnológica?

Antes de mais, é importante não esquecer que a ironia deve ser utilizada como elemento discursivo e recursivo-estilístico e é tão mais mordaz quanto o grau de abertura mental do interlocutor e do receptor. Se assim não fosse, como poderia a ironia ser responsável por uma boa parte da literatura - dita maior - de um país em tempos de ditaduras?
Sttau-Monteiro serviu-se dela para criticar um regime. Reynaldo Arenas também. Entre muitos outros que possam pensar seja na China, Rússia, Espanha, Itália, etc etc, etc.
Mas então porque nos sentimos tão ofendidos quando alguém lança para cima de nós uma ironia?
A explicação é simples e encontra-se também na justificação encontrada por F. Pessoa no seu artigo "O provincianismo português". Primeiro, porque não sabemos, ou esquecemos de como se usa a ironia. Depois, e mais importante, por isso mesmo... PORQUE SOMOS PROVINCIANOS!