terça-feira, janeiro 19, 2021

"Não te estou a ouvir"

Este texto não foi encomendado. Este texto é da minha autoria. Este texto reflecte a minha opinião. Muito se tem falado sobre tudo. Nestes dias, fala-se de CoVid-19, fala-se de política, de extrema-direita e de extrema-esquerda, de hospitais sobrelotados, de ambulâncias à espera, de mortos à espera, de.... Será que todos percebemos agora do assunto? Honestamente, acho que sim. Mas, sempre soubemos tudo. À semelhança do resto do mundo, a extrema-direita vai crescendo. Surge com um discurso populista que esconde reais ambições. Esse discurso, assenta como uma luva no que uma faixa populacional, pensa, acredita, mas não tem voz. André Ventura, em Portugal, vem tão simplesmente dar essa voz a quem não consegue dizer ou agir. Os ciganos não trabalham, os pretos estão fora da terra deles, as mulheres estão de férias fora da cozinha, etc, são os argumentos utilizados para criar eleitorado. E vai conseguindo. Os tempos são negros, meus queridos. Não se iludam. Morrem às centenas. São infectados aos milhares. Todos os dias somos bombardeados com notícias, não do mundo lá fora, mas do país cá dentro. Os lares, os tios, os amigos, os primos, nós e os pais. Porra!!! Mas cansa. Tivemos um primeiro confinamento que nos mostrou que há vida em casa, mas vimos isso como uma alienação das nossas liberdades mais básicas. Pedem-nos agora um confinamento com 52 excepções que se podem traduzir em centenas, mas bradamos que nos roubam o direito de sair e beber um copo?! E cerram-se punhos e bradem-se palavrões porque nos é pedido a utilização de uma máscara?! Devemos todos ser os próximos Brad Pitt e Angelinas - o que é bonito é para se ver.. Mas o que me chateia mais é ver classes operárias divididas, e elementos da sociedade desfazados. Pois é... Aqui vai a minha opiniâo: Calem-se com os fechos das escolas. O primeiro professor que me o disser está quase de certeza a mentir. Não somos ricos. Temos de trabalhar para ganhar dinheiro. Mas à semelhança de qualquer outro ser humano, "quanto menos, melhor". O teletrabalho desta classe profissional multiplica-se por 3. E eu, pelo menos, não quero isso. Li recentemente uma senhora a pedir que se fechem as escolas. O ano anterior, da filha correu tão bem que teve uma "das melhores notas nacionais e foi para a universidade e curso que queria". Mas não nos esqueçamos do facilitismo que foi o ano transacto. Os testes, feitos em casa, os trabalhos feitos em casa, e os exames... ah os exames! Desde há muitos anos que defendo um ensino público de qualidade. Fui contra o chamado "Processo de Bolonha", pois acho que arrasta o ensino portugês para a cova. Mas enquanto não se virem os resultados efectivos desse processo, os estudantes portugueses, continuarão a ser (se não os mais bem preparados), com certeza dos mais bem preparados do mundo para a entrada no mercado de trabalho global. Mas o que oiço e vejo por estes dias vai contra tudo o que acredito e defendo. Se mandarmos os alunos para casa, será mais um ano lectivo que facilitaremos e que hipotecaremos a capacidade crítica de mais uma geração. Quando as coisas voltarem ao "normal", batalharão para conseguir o que quer que seja e não lidarão com a frustração. Vejo aqui "a faca de dois gumes", o preso por ter e não ter cão. Assusta, o vírus. Mas a uma juventude sem educação, não podemos pedir muito mais. São estes jovens a quem facilitamos, que saem e choram por não estar com os amigos, e por não poderem beber uns copos, e por não terem uma Queima. São estes jovens que comparam a Universidade com o cabeleireiro. São estes jovens os anti-vacinas. São estes os "flat-earthers". São estes os jovens que votarão André Ventura e nos governarão na reforma. São estes jovens, a quem queremos retirar uma parte fulcral e importante de conhecimentos. E se fecharem as escolas, meus amigos, fodei-vos que eu avisei.

quarta-feira, janeiro 22, 2020

Alegria por não te amar.

Deixei-te na porta de casa.

Tínhamos estado juntos toda a noite. E a noite voou tão depressa que me doeu no mais íntimo a nossa despedida. Rimos tanto que chorei de alegria, a barriga doeu e os músculos da cara ficaram tesos como pedras. Disse-te isso e respondeste "São então as pedras mais bonitas que já vi. O teu sorriso é lindo. Os teus olhos também". Fizeste-me corar. Não estou habituada.

No momento da despedida, quis-te. Quis a tua respiração ofegante. Quis o teu corpo e a tua alma naqueles momentos em que amantes se tornam um só.

Imaginei o sabor dos teus lábios e souberam a gelado de chocolate. Mas que gelado de chocolate?! Nem sequer é o meu favorito. Porque haveriam os teus lábios de ter esse sabor?

Senti as tuas mãos largas, dentro dos bolsos a correr o meu corpo. Apertaste-me com tanta força que gemi. Apertaste mais. Gostaste daquele som de prazer e dor que não parava de emitir.

Mas como tudo tem um fim, apartámos-nos. Cada um seguiu o seu caminho em direcção a casa. Ainda voltei atrás para te dizer que queria dormir com o sabor dos teus lábios mas, quis o Fado que tudo não passasse de um sonho.

Acordei e chorei. Chorei de saudade e alegria. Saudade de desejar. Alegria por não te amar.

terça-feira, janeiro 21, 2020

A pior das sensações volta - parte três mil cento e vinte e quatro e meio

Era noite escura.

Ela saiu de casa para um café. Saiu de casa, bem arranjada e perfumada. Era um dia como todos os rotineiros dias em que a vida se torna - por mais que não o quisesse.

Ao fechar a porta de casa, sentiu um frio, quase gelado de neve que lhe subiu e desceu todo o corpo. Era um dia de Verão. Como podia? "Foi só um calafrio" - pensou. Mas porquê? Olhou o telefone para confirmar qualquer negra notícia. Mas o telemóvel encontrava-se como a noite, negro!

E andou. Não pensou mais naqueles cabelos que, momentos antes, se haviam levantado como uma grande floresta. Mas pensava no café!

Acendeu o cigarro. Como de costume, puxa o cigarro, coloca-o gentilmente na boca e ri-se de pensar que havia algo de diferente. Sabia o que era, mas nem pensou. O isqueiro em seguida. Rodou a pedra e um pequeno clarão rasga a escuridão. Aquela chama, dançarina, protegida por uma mão, procurou a ponta do cigarro e, assim que os dois elementos se encontraram, naquele instante, inspirou, sentiu aquele fumo de cigarro digestivo rodar dentro da boca, conhecendo todas as papilas e apalpando todos os dentes e sorriu. Sorriu porque a imagem do cigarro que se juntava à chama a fazia lembrar os encontros amorosos. Pensou em dois amantes separados que só por forças externas se podiam encontrar. Mas aquele sorriso, depressa se escondeu com a tristeza daquele encontro fugaz. Será que aquele encontro de milésimos de segundo fazia valer a separação que se avizinhava ainda antes de se beijarem?

Gostava de caminhar a fumar. Distraía-a. Sempre que o fazia, o seu passo acelerado do dia, era substituído por um mais lento, semelhante às nocturnas horas. Apreciava as estrelas e a brisa que lhe tocava o rosto, como quem esconde uma lágrima. E lá teve que enconchar a mão para proteger aquela fonte de calor e impedir que se extinguisse mais cedo que tarde. Achou piada aos barulhos. Parecia que estava mais atenta, pois ouvia sons que lhe pareciam estranhos. Ao virar o canto da rua, a torre da igreja, apareceu-lhe imponente, fálica, virada para a Lua - o café estava perto. E o amante da chama chegava ao fim. Rodou-lhe a ponta até ficar só com o filtro na mão. Despejou aquele falecido no lixo, massajou o tapete de entrada com os pés, a cabeça baixada, mostrando o respeito e a cordialidade de quem entra em espaço que não seu. Levantou a cabeça, rodou-a a procurar uma amiga, com quem não tinha combinado nada e,

O espaço tinha ficado vazio. Onde estavam os amontoados de corpos que tinha visto? A música? O mundo desaparecera!
"Puta que pariu!!! - gritou com o megafone mental. "Outra vez?" - berrou surdamente. O calafrio... Lembrou-se do calafrio.

segunda-feira, abril 29, 2019

Shatter

And the house is empty again.

It's when darkness comes that the mind flows. The day came to an end. The work is done.. today's and tomorrow's.

And I started thinking about writing. I love doing it but, it a writer's block always comes. And so, my fingers slide through, up, on the keyboard and letters join to form words. Disconnected words join to make sentences, but the ideas still fly, and the sentences become non-sense texts about absolutely nothing.

I am thinking of Assessment Worksheets. Parts and times and timetables and the end of the school year is near, Ffs… the end is near!

And listening to music. I always listen to music when writing. It's nice. It's relaxing. But sometimes, one absolutely random music pops to bring memories. Ghosts from the past.

The best weeks are this ones. The ones one starts thinking of "songs of ice and fire". I like them. They are my own way of meditating.

I wish I could remember my first memory. I would like to describe it to you. But I can only remember the lack of …. the lack of… the lack of… I can't even remember what lacked me whilst a youngster.


It's a funny thing.. Last week I dreamt of you. It's always the same dream. We were walking around somewhere, together. Holding hands. You looked what me, I stared at you and your face vanished and I shattered. But, despite being broken I could still sing:

"Humpty Dumpty sat on a wall,
Humpty Dumpty had a great fall;
All the king's horses and all the king's men
Couldn't put Humpty together again."

sábado, novembro 17, 2018

My.. mine.. hers

Looking at this freaking huge, empty house is scary. Not scary like "Scary Movie" - I haven't got a dumb serial killer after me hiding behind the curtains - but like drama scary.

A physical emptiness can, may, and most definitively, will have repercussions in one's state of mind. One starts feeling "saudades".
That means that we start missing "when", "where", "why" or even "who", and this is me trying to come back to grammar.

But this time I began thinking about demonstratives. I was thinking about "My" ex-, and realised that these small possessive adjectives are quite difficult to teach. We do not have "adjectivos possessivos" and they always come before nouns. And they give a possessive characteristic to someone or something. But it's still always strange. Was he/she/it ever our possession?
So I jumped to thinking he/she/it was "Mine". Now, here, in this case, we do have possessive pronouns. And we can move them along inside the sentence. But in English they are used to show that something belongs to someone. So the "mother is mine", because they always follow the verb.

And she left because of that.. She was a "personal subject".. She knew she was no one's belongings. She was no object and I wasn't hers.

sexta-feira, novembro 16, 2018

Memories

I was going through that new thing in Facebook - "Memories" - and I came across with a very old one. The oddest thing is that when I saw it was from eight years ago, I started thinking of where, when and why and...

Wh- questions are sometimes hard to explain to students learning English as a Second Language. One might think it's easy, but we use it like socks.
Now go and try explain 12/13 year-old kids that where is for places and when is for time and why is reason and who is… who is just who. It's not an easy task.

I think that I was living near Rio Arunca at the time. That would be the WHERE. A place in town that leads us right to the river bank. And I don't mean the one where you save your Money even though that would still be a "where".
It was so many years ago I cannot actually remember. I was younger than I am today. I was dating a girl. I had just dropped university. I wrote something to her and that was actually the "memory". This may be the WHEN. The time I wrote the "memoir".
And the fuckin WHY I wrote the piece of shit just is out of my rememberance. I thought I was in love. Or am sure I was? And needed to let her know that. Why? I wasn't sure of anything and neither was she.

And the years went by. And a memory came to haunt. Are all memories a ghost? They may as well be, but I ain't no Ghostbuster to trap them down and recycle them. I live with those ghosts.. Some I can play with, others I...

quarta-feira, agosto 29, 2018

O Amor é cego (mas ainda tem idade)

Há anos… há muitos anos atrás, numa altura de felicidade relativa, de reis e rainhas, príncipes e princesas, o mundo era um conto de fadas e todos viviam cegos e seguros dessa felicidade relativa. Era a Idade da Utopia.
Eram tempos em que o Homem regia a sua vida segundo as leis dessa felicidade relativa. Podiam comer o que quisessem. Beber o que quisessem, pegar o que quisessem. E ninguém dizia nada. E um dia todos eram reis e rainhas, príncipes e princesas.
E as relações eram do mais honestas possíveis. Só se era amigo até um se fartar. E quando se fartasse, dizia e escolhia outro amigo. O mesmo se passava com os homens e as mulheres. Não havia matrimónio, nem igreja. Ninguém se casava. Não havia necessidade. Relações duradouras não existiam. A vida era como é, feita de experiências. E essas experiências levavam a partilhas quase obrigatórias de vivências, de pessoas. Mas não havia a noção de Amor. Ninguém amava. Seria essa a razão de todos viverem em felicidade relativa?


Mas um dia tudo mudou. Mas porquê? Como? O que se passou? Conta-nos!!

O que se passou?! Simples! A escrita apareceu. E os poetas começaram a olhar para lua e a chamá-la de amor. Olharam para as flores e chamavam por alguém que lhes aparecia distante. E viam riachos e ansiavam que a Lídia se sentasse à sua beira. E começou o sofrimento. O Homem começou a procurar companhia permanente. E apareceram os primeiros ladrões. Primeiro roubaram corações. Mais tarde roubaram bancos. Os reis e rainhas, príncipes e princesas não trocaram mais, antes trocaram entre eles.
E se antes o Amor não existia, como que quisessem que não nos esquecêssemos de tempos de felicidade relativa, foi nos dito que o Amor continua cego, que não escolhe cor, nem género, nem idade.

E então? Como acaba?


Acaba quando de vez em quando nos cruzamos com uma dessas pessoas. Alguém que amamos e que nos ama de volta sem conhecer a cor da nossa pele, mas antes a cor da nossa alma. Sem olhar para o nosso género, mas antes para o tipo de confiança que transmitimos. Que nos diz que a nossa idade é a idade da vida que quer passar connosco.


Que bonito!


É mesmo? Terei contado isto bem ou a história é ao contrário?