quarta-feira, julho 27, 2011

Um dia deixo de sonhar

Todas as noites, quando se deitava, ela aparecia sorrateiramente no seu quarto. Deixava-se ficar do lado dele e falavam toda a noite. Falavam do que tinham feito, falavam do que não tinham feito e do que queriam fazer. Falavam da vida e do mundo e de amor e de enganos e desenganos, de verdades e de mentiras.
Todas as noites, ele descobria a felicidade na presença dela. No olhar dela, no cheiro dela. Mas todos os dias quando acordava, encontrava-se sozinho, sem ninguém do seu lado. Nenhuma prova de que ela lá estivesse estado verdadeiramente.
Ah! Que sonhador que ele era. Todos os dias ele ansiava o momento de voltar a deitar-se, para que mais uma vez ela entrasse sorrateiramente na sua solidão e assim deixa-se de se sentir desterrado de Vida, da vida, do mundo. Ele não se sentia no lugar certo, a não ser quando estava do lado dela. Mas que poderia fazer para que a noite não acabasse nunca? Que poderia fazer para nunca acordar e deixar que ela ficasse para sempre do lado dele?

Num passado, quando certas coisas não lhe tinham corrido bem, havia deixado de comer, de rir, de viver. Com ela voltava a fazer todas essas coisas. Mas uma desgraça nunca vem só e uma notícia apocalíptica vinha-lhe mostrar que ainda era o seu coração que comandava o seu corpo e a sua mente.

Quando conseguiria fazer com que fosse a sua mente a controlar o seu corpo e as suas vontades?
No dia em que deixasse de sonhar, teria a certeza que tinha conseguido isso. No entanto ainda não o conseguia. Não o deixavam!

Um dia deixo de sonhar e sei que quando isso acontecer... Serei um pouco mais feliz!

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