terça-feira, março 05, 2013

My first book

E de repente, aquelas palavras gelaram o seu mundo. Eram palavras vindas directamente das mais remotas calotas polares. E fizeram-no pensar no seu mundo. Todos os seus problemas pareciam insignificantes perante este novo desafio que se lhe era apresentado.
Era difícil. O seu Castelo de Cartas, que tanto tempo e trabalho lhe havia dado a construir, ruia agora, perante a sua impotência.
Que fazer? Como refazer toda a sua construção? Como se reconstruir? As perguntas impunham-se à medida que ela continuava a gelar tudo com as suas palavras. "Eu já não te amo. Foste simplesmente um acidente de percurso." Como podia aquilo estar a passar-se? O que iria na cabeça dela, que a fizesse mudar tanto em tão pouco tempo?
As perguntas entupiam a sua cabeça, ao ponto de, já não a conseguir ouvir a falar e não entender nada do que ambos dissessem.
Os termómetros marcavam 0 graus, mas depois de tamanha baldada de água fria, nada mais lhe parecia frio a não ser a sua alma. Tinha gelado depois de ouvir as suas palavras.
Todos os seus pensamentos lhe fugiam para lugares remotos, de temperaturas amenas, para sítios que pudessem descongelar o que acabavam de lhe congelar.
Só conseguia pensar em termos de escuridão, de névoas, de futuros incertos... de morte! Por mais que tentasse encontrar no seu íntimo, praias paradisíacas, as únicas imagens que lhe atravessavam a mente, eram imagens de momentos de êxtase que havia passado com ela. Só pensava na noite anterior, em que tinham feito amor. "A noite passada não significou nada para ti?" "Nem por isso. Não é preciso Amor para ir para a cama com alguém!"
Foi nesse exacto momento que as suas gélidas palavras lhe arrancaram o coração, com a crueldade com que um carrasco puxa a cadeira a um enforcado. Foi nesse exacto momento que a ideia que tinha construído em redor dela se desfez. Foi nesse momento que deixou de se sentir, deixou de sentir calor, virou costas e desapareceu.

Tinha de chegar a casa o mais cedo possível. Tinha de se refugiar naquele sítio que sempre lhe transmitira a segurança de uma cidade muralhada. Tinha de chegar ao seu quarto. E à medida que se aproximava dessa sua impenetrável fortaleza, começou a refazer o seu futuro.
Começou a pensar em tudo o que tinha deixado por ela. Nos amigos, nos locais e em tudo mais.
Assim que chegou ao seu santuário, deixou-se inebriar pelas recordações que aquele espaço lhe trazia, fechou os olhos e dormiu. Amanhã seria um novo dia.

Ela sentiu-se aliviada por deixar sair o que há tanto tempo lhe perturbava a alma. Como poderia ela ter aguentado dois anos mais que o que devia. Muito a tinham ajudado os amigos. Particularmente os dele. Sempre lhe haviam dito que era uma fase passageira, que as coisas haviam de passar, mas por mais ouvidos que desse à razão, o coração lhe indicava outro caminho, outra pessoa. O que ela via agora, era uma porta que se abria de novo na sua vida, sem nunca pensar no enorme vazio que tinha provocado noutra pessoa, sem nunca pensar que mais tarde seria incapaz de voltar a sentir o que antes havia sentido e experimentado.

À medida que os dias, os meses, os anos passavam, as suas vidas tinham seguido caminhos diferentes.
Ele havia refeito as suas prioridades. Houveram alturas, em que chegou a pensar na imensa solidão que poderia significar uma vida sem Amor. Mas esse receio, cedo se desvaneceu. Ele sempre havia sido uma pessoa extremamente fácil de tratar. Sempre teve facilidade em encontrar o bom em todas as pessoas, sem se preocupar que se pudesse magoar, sem se preocupar que o pudessem magoar. A partir daquele momento ele continuaria a ser ele mesmo, mas com a diferença, que também ele próprio passara a ser o centro das suas atenções e, nada do que lhe dissessem o faria mudar de ideias.

Naquela noite, nem lhe apetecia muito sair de casa, mas tinha prometido a uns amigos que se encontraria com eles. Assim, a muito custo, lá se arranjou, sempre da mesma maneira, jeans, sweat e sapatilhas rotas. Longe ía a ideia de que aquela noite o transformaria para sempre. Longe ía a ideia de que aquela noite iria apressar acontecimentos desastrosos.
Ao chegar ao local, apressou-se a cumprimentar os presentes e, a fazer-se apresentar aos desconhecidos. Uma em particular. Ela. Foi nessa noite que tudo começou.
As banalidades e trivialidades de uma conversa de café, sucederam-se. Mas ela não parava de o examinar. Examinou-o com e delicadeza com que um apicultor trata as suas abelhas. Examinou-o com o cuidado de um cirurgião. E deixou-se enganar. Não viu que apenas procurava um escape para o buraco onde antes se tinha atolado. Não pensou no que pudesse suceder. No final da noite seguiriam caminhos separados, mas voltariam a cruzar-se dias depois. Ela de tudo faria para, não mais o deixar fugir. Estava decidida a conseguir o que queria.





Não mais se tinham encontrado, nem sequer trocado palavras.
Ele tinha-se refugiado nas pessoas que sempre lhe importaram. Nos seus amigos. Tinha encontrado a força para continuar, nas muitas palavras de afecto que lhe haviam dirigido. "Esquece! Life goes on"

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