quinta-feira, março 24, 2011

From the Book II

E de repente, aquelas palavras gelaram o seu mundo. Eram palavras vindas directamente das mais remotas calotas polares. E fizeram-no pensar no seu mundo. Todos os seus problemas pareciam insignificantes perante este novo desafio que se lhe era apresentado.
Era difícil. O seu Castelo de Cartas, que tanto tempo e trabalho lhe havia dado a construir, ruía agora, perante a sua impotência.
Que fazer? Como refazer toda a sua construção? Como se reconstruir? As perguntas impunham-se à medida que ela continuava a gelar tudo com as suas palavras. "Eu já não te amo. Foste simplesmente um acidente de percurso." Como podia aquilo estar a passar-se? O que iria na cabeça dela, que a fizesse mudar tanto em tão pouco tempo?
As perguntas entupiam a sua cabeça, ao ponto de, já não a conseguir ouvir a falar e não entender nada do que ambos dissessem.
Os termómetros marcavam 0 graus, mas depois de tamanha baldada de água fria, nada mais lhe parecia frio a não ser a sua alma. Tinha gelado depois de ouvir as suas palavras.
Todos os seus pensamentos lhe fugiam para lugares remotos, de temperaturas amenas, para sítios que pudessem descongelar o que acabavam de lhe congelar.
Só conseguia pensar em termos de escuridão, de névoas, de futuros incertos... de morte! Por mais que tentasse encontrar no seu íntimo, praias paradisíacas, as únicas imagens que lhe atravessavam a mente, eram imagens de momentos de êxtase que havia passado com ela. Só pensava na noite anterior, em que, ele achava, se tinham amado. "A noite passada não significou nada para ti?" "Nem por isso. Não é preciso haver Amor para ir para a cama com alguém!"
Foi nesse exacto momento que as suas gélidas palavras lhe arrancaram o coração, com a crueldade com que um carrasco puxa a cadeira a um enforcado. Foi nesse exacto momento que a ideia que tinha construído em redor dela se desfez. Foi nesse momento que deixou de se sentir, deixou de sentir calor, virou costas e desapareceu.

Tinha de chegar a casa o mais cedo possível. Tinha de se refugiar naquele sítio que sempre lhe transmitira a segurança de uma cidade muralhada. Tinha de chegar ao seu quarto. E à medida que se aproximava dessa sua impenetrável fortaleza, começou a refazer o seu futuro.
Começou a pensar em tudo o que tinha deixado por ela. Nos amigos, nos locais e em tudo mais.
Assim que chegou ao seu santuário, deixou-se inebriar pelas recordações que aquele espaço lhe trazia, fechou os olhos e dormiu. Amanhã seria um novo dia.

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